domingo

Na ressaca

.
Não se conhece um indivíduo
pela sua poesia,
ainda que a mais bela.
Talvez sejam uvas pisadas
em busca do buquê que inebria, -
de um líquido que entorpeça!...

Ou, quem sabe, vinagre...
temperando a carne
que, ainda,
em dúvidas se consome...

ju rigoni (1997)


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Maldição



Dias longos, loongos...
Os ponteiros do relógio não saem do lugar...
Lá fora, nubla, chove, faz sol;
o tempo passa sem passar...

A espera imobiliza,
não deixa pensar, -
fazer outra coisa
além de esperar...

Impossível dormir... Sonhar...
Ser livre!

Não há remédio
que não seja esperar
quando o que se espera
é que a espera finde...

ju rigoni (1998)


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Tresnoitando...



Sentidos aguçados, corpo dolorido,
partilho com a noite meus segredos…
Tudo fala aos meus sentidos…
Sapos, rãs, corujas, grilos… E o mar…
Impossível deixar de ouvi-lo!

No ir e vir das ondas…
o ritmo descompassado,
o chiar da areia, – percussão…
no arrastado som da mágoa,
traduzido em grãos, água…
e uns dedos longos e magros
a dançar, insones, sobre o teclado…

Mergulho na beleza… no mistério
da ruidosa calmaria da noite.
O silêncio silêncio
não é da natureza da natureza…

A noite avança…
e esse silêncio eloquente e lindo
desperta em mim outros sons,
outras vozes,
outras noites não dormidas,
queridas… vorazes…

Quando mais tarde, – tudo mais quieto -,
d esperto, o galo canta enciumado,
mais claro e forte o som que vem das ondas
espanta intrusos de última hora…

Só a aurora abranda-lhe a voz rouca,
agora estranhos mantras de ninar,
a distrair a luz que já vem vindo
pra revelar, da emoção, as cores,
e acordar o que estava dormindo…

ju rigoni (Barra de Maricá/1999)


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Tim-Tim


Sacar a rolha;
aspirar o bouquet possível...
De olho no futuro,
saborear no presente
alguma pretérita delícia...

Adivinhar
sem avinagrar-se.

(Ainda que as taças
contenham o mesmo vinho,
são diversos os paladares...)

ju rigoni (2000)

Aos amigos e visitantes, saúde e muitas alegrias em 2011.

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