domingo

Quando?!...



Quando a gente ama
arde no fogo, crepita,
deixa secar o mar interior;
sem dó, ouve o desafinar
da música que nos habita.

Quando a gente ama
bebe palavras em saliva quente;
nem se dá conta das estrelas cadentes
do céu da boca.

Quando a gente ama
a gente enlouquece...
A gente só ama, ama, ama...
O leite a ferver e entornar
dos corpos ardentes
sobre a cama...

Quando a gente ama
roça perigos em gozo...
Apossa-se do que não deve...
Na vício da felicidade
corpo e alma experimentam
um gosto de eternidade...

Quando a gente ama
ama o que o outro ama na gente;
não é quando a gente ama
que a gente se ama
completamente?...

Quando a gente ama
trama em nós cegos
que estreitam o peito
entre o prazer e o receio
de que havendo fim
não haja meio de sobreviver...

...

E quando o amor é findo,
de repente, a gente se lembra
que não existiu nesse tempo...
Tira do limbo a própria trama...
dá à luz a dádiva da dúvida...

E rememora, e sofre,
e quer morrer, - matar o que mata! -,
e tem certeza...
Não será capaz de responder
à inquietante pergunta...

Quando a gente ama?...

ju rigoni (Anos 70)



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De Espantos...




E a palavra surge

vestida de noite;

o manto do dia à frente.

No verso, o tema...

Aurora e tarde

encontram-se

no poema...


ju rigoni (1988)



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À Vela...



O poeta não está nestes versos.
Saiu. Foi beber o mar...
Viver e morrer outras vidas...

Eterno incompreendido,
curtido em sal e areia,
remenda e remenda a rede, e...
nem talentos nem sustento...
Não é de prata a sua sede,
nem de ouro a sua fome!...

Seu barco nunca teve nome,
e minúsculas são as letras
que marcam sua passagem
em calmaria ou tormenta.

Solitária...
é a pequena grande viagem
para dentro...
Povoada de silêncios
que, solidários, gritam...

ju rigoni (1997)


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Dora

.
Eu a vi.
Ela me veio no seu passinho quieto
com o mesmo sorriso
e o abraço terno plenos em amor e proteção.
Afagou-me os cabelos...
Ah, tão bom senti-la de novo tão perto!...

- Minha linda, meu amor! –
a voz que pensei nunca mais ouvir
nesta vida...

Ela estava aqui. Eu juro! Ela estava.
Na fenda entre a saudade e a memória
que embola a linha do tempo.

Se estou louca,
enlouqueci da melhor loucura;
a que nos mantêm vivos.

Ela estava bem aqui. Eu juro!

ju rigoni (2005 - para minha inesquecível vó Dora)


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Espírito Tanto...




Prisioneiro da liberdade
de escolha,
a sina do poeta é errar...
para não errar.

Tudo acertado,
poema e poeta,
enfim juntos,
e para sempre separados,
sob olhares diversos
novamente erram.
Agora, sem escolha...

Erram os poemas,
à procura de frestas
que os conduzam
à vida eterna...
Filhos pródigos,
que ao poeta errante
não voltarão como antes...

ju rigoni (2003)


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