domingo

Em Campanha

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Minado, o texto
está prestes a explodir
sob um tanque de guerras perdidas...
Malditos e blindados significados
in significantes...

No front da mente,
palavras entrincheiradas...
Caneta... engatilhada.

Um movimento...
Um único movimento...
serão reveladas...
E um exército de eus avançará
certo de haver vencido mais uma batalha...
Quiçá, a guerra...

Neurose;
poemas não conhecem paz...

Sob miras diversas
um poema é sempre mais...
Muito mais...
Avança, e avança,
haja ou não inimigos...

ju rigoni (1998)


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Invernal




Ele me olha com olhos de interrogação, embora tranquilos, e eu sem saber o que fazer disfarço a resposta que tanto aguarda… Passo ao largo, deixando ao abandono a verdade. Assim, penso preservá-lo, resguardá-lo um pouco mais…

Apesar do meu egoísmo, ele sabe. Eu sei que, lá no fundo, ele sabe.

Embora a certeza, tento sorrir, fingir, animá-lo o mais que posso.

- Amanhã você já deverá ir para o quarto; quer que eu lhe traga alguma coisa especial? O que você quer? É só dizer!

Mas seu olhar não engana… É de minutos, horas… um dia? Jamais uma semana! E continuo tentando…

- Acho que amanhã vai fazer sol…

Ele não tem medo da ilustre desconhecida. Age como sempre… Como se estivesse pronto para uma viagem, ou para lançar-se em uma aventura qualquer.

Em má hora sou tomada pela inveja…

Um beijo, um até amanhã… O sorriso com que se despede não deixa uma única pista. E retiramo-nos, eu e a angústia que penso camuflada…

Logo será amanhã. Não há como mudar isto…

Volto para casa caminhando. Tenho que mexer o corpo. Preciso fazer alguma coisa, ainda que essa coisa não resolva porra nenhuma, não mude uma única vírgula do porvir…

O vento gelado penetra minha roupa, adormece meu corpo, encolhe minha mente… Sensação de impotência. Estremeço, e aperto o passo… Daria tudo por uma bebida, – qualquer droga -, capaz de subverter-me a alma; devolver-me a ilusão de vida…

Enquanto caminho, lembro-me de tanta coisa… Mas não consigo deixar de pensar que o tempo anda mais depressa do que eu. Não há o que eu possa fazer… O amanhã vem aí…

Merda!

ju rigoni (1988)


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Toque Estelar



Deitei meu corpo
sobre a espreguiçadeira do jardim
para ver melhor as estrelas...
e perdi-me no olhar o céu
de uma noite clara de verão...

Olhei muito, olhei tanto...
Que estranha sensação!
Flutuar num espaço sem fim...

As estrelas nem pareciam aquelas...
Quase podia tocá-las...
De perto, nem eram tão belas!

Tanta luz...

Mal conseguia vê-las!

Voltei a mim
e nesse fundo segundo
meu olhar foi ao chão.

Ergui-me da espreguiçadeira
e fui dormir em minha cama...
Sonhar, ou ter pesadelos,
para ver estrelas
como sempre as vi...

De longe ou de perto,
acendendo e apagando,
acendendo e apagando...

no breu de um tresloucado céu
deitado sobre o travesseiro...

ju rigoni (2001)


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Varanda



Dia gostoso...
Delícia de um sol morninho,
que o frescor da brisa
sopra da pele....

Delicadamente,
movem-se as folhas, -
as secas ondulam no chão;
as verdes dançam
nos galhos das árvores
coalhados de passarinhos...

O mar, hoje manso,
fala baixinho...
Sob o céu de um azul azulzinho,
carinhosamente alisa a areia...

Balançam na rede minha preguiça,
e o desejo de muitos
e muitos dias de paz...
Como esse.

ju rigoni (2000)

imagem obtida via google aqui


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Mirando a Miragem



Se eu contasse o que me vai por dentro
exilar-me-iam numa ilha paradisíaca...
Distante do que há de mais banal neste mundo, -
tudo que é cruel, doloroso, triste...
Um lugar povoado de almas em calma,
com vista para um mar de amor, alegria, beleza;
aquilo que embora não pareça
está na essência do que eu digo.
Significados significantes... Inversos...

Certo é que onde eu for
vou comigo...


ju rigoni (Anos 70)


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