domingo

Música!



A caneta voleia,
saltita, -
dança...
Bailarina que domina
o palco de papel.

Eis um belo pas de deux...
Segura pelos dedos,
enfeita cenários,
cria novas luzes,
conta o infinito...

Em ponta e beleza,
dança...
E não apenas dança...
Doa seu sangue,
de rara nobreza,
até a última gota.

ju rigoni (1988)


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Pretéritos



Guardados assim,
na gaveta
da escrivaninha antiga,
entre traças e cupins,
textos, fotografias, -
uns sobre os outros,
amarelados, rendados,
semi-destruídos...
Guardados, não!...
Escondidos de mim...
no velho porão.

Tirá-los de lá?
Mexer nas feridas?...
Tentar curá-las?!
Soprar-lhes ainda alguma dita?...
Não sei...

Por qual razão os esqueci?
Por que abanonei ali
parte da minha vida?

Por quais estranhos caminhos
fui reconduzida a um passado,
que de tão passado
a pragas serve de alimento?...

Por que só agora
a memória
o devolve a mim?...

ju rigoni (sem registro de data)


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Véu




Encanta-o,...
esse véu que adivinha em seus olhos.
Céu presumido, -
distante...

Em quarto
de lua minguante,
desnuda a maçã
cujo centro,
extirpado,
guardava a entrada
do paraíso...

Sentirá o buquê,
mas não sorverá
o vinho do fruto proibido, -
que entorpece,
inebria, -
esclarece...
Dá a conhecer
a hora sublime
do prazer,
o momento
sagrado
do ser...

ju rigoni (1999)


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De graus...



Acordei
pensando ouvir vozes...
Levantei-me da cama
e, ainda sonolenta,
fui até à escada...
Olhei-a...
Palavras desciam
e subiam em tal velocidade...
Aqui e ali, escorregavam...
Um perigo!
Degraus têm quinas
e, ao que tudo indicava,
também as tinham
as palavras que, tontas,
comigo tentavam acordar...

Mas, não!
Nada fazia sentido...

Ainda era manhã, -
e... quanta luz!...
Bêbada de sono,
de ressaca,
olhei para baixo,
e, de repente, caí
em mim...

Voltei para a cama.
Fui deitar novamente a cabeça,
e minhas palavras,
ao travesseiro, -
tentar resgatar o sonho
onde as vi primeiro.

Outra vez, adormeci.

À tarde, ao despertar,
percebi que eram outras as palavras
que de mim se levantavam...
Que pesadelo!

Das primeiras, só havia um rastro...
Uma aqui, outra ali...
Perdi a senha do sonho.

Desisti! Não me adiantaria...
Palavras, só as encontraria à noite,
bem acordadas,
na minha insônia...

ju rigoni (2010)

foto obtida via google.


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